E o que fazer quando os nossos filhos têm ataques de estupidez galopante em frente a outras pessoas? Aconteceu-me no sábado. As vítimas (para além de mim) foram dois tios meus com quem estamos poucas vezes. O Afonso entusiasmou-se com as suas graças, e passou em poucos minutos de um miúdo cheio de piada para um puto hiperactivo com ataques de riso histéricos que o impediam de ouvir o que quer que fosse de quem quer que fosse. A todas as perguntas que eu fazia respondia "cocó" e quando lhe pegava no braço para ele prestar atenção, punha o corpo mole e deixa-se cair no chão. O desespero! Em casa, ia imediatamente para o sofá dos castigos pensar na vidinha, ou, se o pai estivesse em casa, mandava-lhe um berro do escritório que seria o suficiente para o fazer voltar à realidade. Mas em pleno aeroporto cheio de gente, comigo a tentar controlar outro não menos hiperactivo Sebastião, a situação parecia absolutamente incontrolável. Por mais que eu me justificasse ("ele nem costuma ser assim e tal"), o meu desespero a tentar dominar duas criaturas de meio metro instalou um silêncio incómodo e uma troca de olhares inevitável entre os observadores da cena. "Não hás-de tu estar magrinha..." - comentava a minha tia. "É normal" - dizia o meu tio, que por dentro pensava "se fosse comigo, levava já uma galhetada...". Resolvi aproveitar mais uma escapadela do meu filho ao meu braço já prestes a apertar o dele, para ir atrás dele e o apanhar atrás de um placar de qualquer coisa que estava a esconder uma parede mal amanhada. Ali, longe de olhares, do panóptico, de tudo, abanei-o um bocado e tentei raptá-lo do reino da parvoíce com umas palavritas mais duras. E depois abracei-o com muita força. Descobri há tempos que, mais eficaz do que uma palmada, é apertar o corpo do meu filho com toda a força contra o meu. Aperto-o e digo-lhe muitas vezes "calma, calma, calma"... Outras vezes coloco-lhe uma mão no peito e outro nas costas, com as palmas bem abertas, e aperto-o também com força, entre palavras também fortes. Nunca li nada sobre reiki, mas acho que aquilo que se fala da transferência de energias deve ter alguma coisa a ver com isto.
Resumindo: nem sempre, para sermos bons pais, resulta imaginarmo-nos com gente à volta. Às vezes, quando temos gente à volta, para sermos bons pais, temos mesmo que agir como se não estivesse ninguém a ver!!!
Quando os pais estão a conviver com os seus filhos sob os olhares atentos de familiares, amigos ou até perfeitos desconhecidos, conseguem geralmente ser pais mais perfeitos do que quando a paciÊncia lhes falta em privado. Pelo menos é feito um esforço adicional, nem sempre consciente. Por isso, quando estou no meu limite, aprendi que posso beneficiar de um exercício muito simples: imaginar que o meu comportamento está a ser avaliado por quem me observa. Uma espécie de panóptico de Foucault aplicado à paternidade. Claro que tenho obrigação de me esforçar por ser melhor mãe sem ter que fazer exercício nenhum, porque amar os filhos geralmente chega, mas quando se está no limite do berro ou da bofetada, imaginarmo-nos em BigBrother pode ser uma valente ajuda...
O meu filho mais velho foi há seis longos dias de férias com a avó para o Algarve. Achei que era uma excelente oportunidade para pôr o meu trabalho em dia, já que o meu piolho mais pequeno dá menos trabalho e se entretém muito bem durante o dia com a pessoa que toma conta dele. Mas a verdade é que a casa insuportavelmente vazia não dá inspiração nenhuma, e o meu piolhinho pequeno percebeu que esta era a semana exacta para gozar a mãe. Sentiu-se, pela primeira vez, filho único (realidade que ele não conhecia, de todo!), sem o irmão a competir (e com armas mais eficazes) pelo colo e atenções da mãe. Então "colou-se" à mamã, e foi muito bom, porque eu também ainda nunca me tinha sentido só mãe dele. Olhar para ele e dar-lhe miminhos sem ter que pensar que o outro está por ali a exigir metade, ou se não está é porque está a fazer alguma asneira e é melhor ir ver o que é antes que degenere em desgraça, é muito bom! E os progressos do meu piolho bebé (que de bebé já tem pouco) também foram notáveis esta semana. Percebi então que é muito bom ter vários filhos para eles brincarem uns com os outros, mas é preciso arranjar momentos para estarmos com cada um deles como se fossem filhos únicos.
Para compensar os filhotes e o pai deles de uma semana cheiiiiiinha de trabalho, decidi passar um sábado inteiro sem ligar o PC. Um sábado inteiro de molho na piscina a brincar com os filhotes e os primos. Resultado: à noite adormeci ao primeiro "4400" que o pai arranjou para ver comigo, eram onze da noite. Toca de pôr o despertador para as seis da manhã para trabalhar no domingo de manhãzinha antes da criançada acordar, e não escrevo isto para que os escassos leitores deste blogue tenham pena de mim e de todas as mães do mundo que trabalham muito e têm filhos (até porque às 8 da manhã fui tirar um cochicho). Queria, sim, informar que o meu filho descobriu a forma de combater o sono dos pais. Quando acordou e me viu a bocejar, com os olhos a pender, resolveu ensinar-me a ser forte e a ter energia: "É fácil, mamã. É só esfregares os olhos com força. Depois esticas assim os braços e já está!". Obedeci e que remédio não tive eu senão despertar. Mas, pelo sim, pelo não, também bebi um cafézito...