Tal como a dinâmica faz toda a diferença, na música, também a dinâmica com que falamos com os nossos filhos faz toda a diferença na forma como eles reagem ao que lhes dizemos. Entoação, vibração, linguagem corporal, expressividade, e tudo o mais que dê dinâmica ao nosso discurso pode ajudara que os nossos filhos nos dêem atenção e reajam positivamente ao que pretendemos deles. Quando estou para aí virada, encarno o Duarte das Pistas da Blue e falo a cantar, com uns versos pelo meio, faço caretas e movimento o corpo, é garantido que os meus filhos vão ficar a olhar para mim, que mais não seja a perguntarem-se o que é que me deu que fiquei patética de repente. Mas sem ser preciso chegar a este exagero (desculpa Duarte, mas eu própria ficava a olhar para as Pistas da Blue e a pensar como é que podias estar a fazer uma figura tão patética), se falarmos de tudo com entusiasmo e dermos ordens recheadas de motivação, a vida em casa e na rua pode ficar muito mais facilitada. Se em vez de "come já a sopa!" dissermos "Uma corrida para ver quem se transforma mais depressa no Monstro da Barriga Cheia de Sopa", se em vez de "Ninguém se levanta da mesa" dissermos "Tenho o rabo colado à cadeira! As vossas cadeiras também têm cola?" e se em vez de "Não quero cá gritos" dissermos "Vamos falar como os fantasmas. Baixinho para não assustarmos as pessoas... e o primeiro a acabar vai assustar o pai" é garantido que, pelo menos à refeição, vai tudo ser um bocadinho (se calhar só mesmo um bocadinho) mais calmo.
Regressei hoje de férias e fui brindada pelo meu filho Afonso com um verdadeiro hino ao Natal:

Jingle Bell, Jingle Bell,
já não há papel
Não faz mal, não faz mal,
limpa-se ao jornal.

O jornal acabou
E o papel também
Vou limpar o rabo
às saias da mãe...
Uma semana sem os meus filhos, e foi o suficiente para me esquecer da pressa com que eles (e as crianças em geral) vivem a vida. É tudo para agora, no momento, sem demoras. O Natal tem de ser hoje, os pais têm de ter tempo para brincar agora e só a sopa e cortar as unhas dos pés é que pode ser para amanhã (que é como quem quer dizer nunca). Sem muita noção do tempo, o depois ou o amanhã pertencem a um tempo tão vago e tão distante que eles não o compreendem. Vivem o momento. Gozam-no. Talvez seja essa a grande diferença entre as crianças e os adultos. É que crescer implica aprender a esperar, a ter paciência, a fazer de tudo hoje para gozar um dia, mais tarde, depois, amanhã ou nunca.
Brincar às escondidas é a brincadeira mais eficaz para as mães ocupadas conseguirem trabalhar e deixar os filhos contentes ao mesmo tempo. Basta que as mães fiquem sempre com a função de contar e procurar os piolhos. Os números são intermináveis ("ó mãe, ó precisas de contar até dez!") e, se a casa é grande, dá perfeitamente para se ficar sentado ao computador a enumerar, em alta voz, eventuais lugares onde se sabe, à partida, que os filhos nao estão ("Será que estão no frigorífico? Não... Será que se esconderam dentro do forno... também não! Será que fugiram de casa? Não..."). Às vezes misturar uns sons (de portas a bater, gavetas à abrir, o que estiver ao pé da mesa onde estamos a trabalhar ao computador) ajuda ao efeito. Difícil, claro, é conseguir trabalhar alguma coisa de jeito e contar e gritar eventuais esconderijos possíveis ao mesmo tempo. Mas as mães têm o cérebro treinado para serem mulheres e mães e trabalhadoras ao mesmo tempo (alguns pais também, é verdade) de modo que é uma questão de compartimentação do cérebro. Até, claro... os filhos crescerem e não se deixarem enganar com tanta facilidade... Cá estaremos para inventar novas estratégias.