Dia 20 à noite:

(Afonso) Mãe, desculpa... esqueci-me de te mostrar isto. Mas este fim de semana tenho uma visita de estudo em Madrid. Vamos amanhã e voltamos no domingo.



Mãe engole em seco. Já? Como? Madrid?

(Afonso) Mas só avisaste agora? Onde é que é o ponto de encontro? Onde é que vão dormir? Tenho que ver mais informação, deves ter recebido mais alguma coisa.

Afonso puxa de uma cadeira e senta-se ao meu lado, impressionado.

(Afonso) Fogo, mãe... era uma partida. Eu estava à espera de te ver histérica, a dizer que nunca na vida deixarias o teu filho de 12 anos ir para Madrid um fim de semana. E tu só te mostraste chateada por eu não ter avisado antes.

É que a mamã lembrou-se de todas as viagens que sempre desejou fazer, da sua sede de correr o mundo e aproveitar tudo até ao tutano, e de aos 16 anos ter chegado a casa com a notícia de que tinha ganho um prémio de escrita sobre os Descobrimentos... e uma viagem de 9 dias a Hong Kong e Macau com mais 100 jovens. Ir a Madrid um fim de semana, com meia dúzia de colegas e dois professores, nem me pareceu nada de especial.

(Afonso) Passaste no teste. Estás preparada para ser mãe de um adolescente...

Mas, felizmente, era só um teste, que ele preparou com as folhas do colégio e a letra certinha de uma colega... Vamos ver quando for a sério!
O ringue de patinagem parecia enorme, o coração da mãe ficou pequenino. E, na relatividade de todas as coisas, cresceu o meu respeito pela pequena-grande filha que se exibia à frente do grande-pequeno júri. A minha teimosinha endiabrada tem garra e não se fica.
Haja muitos ringues na vida onde ela possa deslizar sem medos, aprender com as quedas e, tanto quando possível... brilhar!

Do nada:

(Nonô) Ó mãe, se uma pessoa estiver a fazer o exame de código e bater com o carro, tem de pagar?

(Mãe) Eu acho que não, filha. À partida o carro está à responsabilidade da escola.

(Nonô) Ufa!

É que é mesmo uma questão pertinente para uma miúda de 7 anos...
Resultado do cansaço da mamã: 3 dias sem voz!

Lado bom da coisa (sim, há sempre um lado bom para tudo!): nunca se bateram tantas palminhas cá em casa...
Há 7 anos, sensivelmente a esta hora, olhava pela primeira vez para as duas pequenas criaturas que tinham crescido dentro de mim durante longos 8 meses. Como era possível que tivesse cabido tanta gente nas minhas entranhas, é ainda hoje, para mim, uma pergunta sem resposta. Em questão de minutos, passava de mãe de 2 para mãe de 4, e se o sorriso era de emoção, por dentro havia um turbilhão de dúvidas: o que é que eu vou fazer da minha vida? Nunca mais vou conseguir escrever uma linha! Como é que eu vou conseguir ajudar esta gente toda a crescer? Como é que vai ser quando começarem a comer? E a andar? E a escola? E os namoricos? E as noras e os genros? E os netos?
E depois respirei fundo. Um dia de cada vez. Porque, a par de todos os sonhos que ficam pelo caminho, há todos um mundo de novas oportunidades que se nos abrem. A maternidade, não sendo a única fonte de alegrias, é uma escola poderosa de autoconhecimento, liderança, desenrascanço e organização. Tenho cada um dos meus filhos no meu currículo. E, mesmo não tendo (ainda) podido escrever todas as histórias que gostaria, sei que eles tornaram infinitamente mais rico o Livro da Minha Vida.



(Dudu) Mãe, desenhei o Egipto. Com um bocadinho de guerra...


Depois pede-me para lhe falar sobre o fim da poluição no Butão. E para lhe mostrar como vivem os meninos pobres da Índia.

Traquina e de mau feitio, nasceu com a consciência de que é um cidadão do mundo, com tanto, mas tanto por transformar.
E um feliz Dia da Família também à Família Massa Fresca, e a todos aqueles que têm escrito, dado corpo, imagem, cor, som e visibilidade a esta série familiar, que se propôs, desde o primeiro momento, a sentar filhos, pais e avós num mesmo sofá, à mesma hora.


#‎massafrescatvi‬
Falta aqui um gato e um cão. Falta a família que nos viu nascer e nos ajudou a crescer. A que já partiu. E aquela que, não sendo de sangue, se foi juntando.
Imaginei-me muitas vezes uma guerreira solitária. Independente, vagueando pelo mundo sem precisar de ninguém. E tem sido tão bonito o desmontar desta ideia, o despontar em mim de um sentimento de pertença, de união, de trabalho de equipa e força tribal... Serei sempre, em certa medida, quando a noite cai e as palavras me invadem, um lobo solitário. Mas sei que sou um lobo mais feliz por toda a alcateia que me acompanha, apoia, defende e à qual eu também vou tentando dar o meu melhor.

Feliz Dia da Família!

Quando a minha filha chegou a casa com um pedaço de tecido elástico e percebeu que eu também sabia jogar este jogo, até deu saltinhos de alegria.





Mas o giro, giro, foi ver os rapazes a tentarem imitar-nos. Ah, mãozinhas de fada! Em matéria de motricidade final, não há dúvidas de que rapazes e raparigas (salvo boas excepções) estão nos antípodas!

PS - E alguém sabe como se chamava este jogo no nosso tempo?
Para juntar à lista de vantagens de ter 4 filhos:

(Mãe para os e filhos mais velhos) Meninos, os manos têm uma lengalenga enorme para decorar. Façam duas equipas e voltem daqui a meia hora com a lengalenga decorada. Quem conseguir ganha carteirinhas do Futebol!

Tenho meia hora para trabalhar...
Vou aproveitar!
A Nonô anda em grandes dúvidas existenciais... sobre a existência da fadinha dos dentes.

Hoje, com mais um dente debaixo da almofada, voltou às perguntas:


(Nonô) Eu, por um lado, acho que a fadinha és tu... mas depois acho que não! Tu não tens asas! Como é que tu podias ir a casa de todos os meninos do mundo?!


Mantive a esperança. Mas, algum tempo depois, ela veio ter comigo, muito aflita.


(Nonô) Eu estive a pensar... e se todas as mães do mundo forem as fadinhas dos dentes dos seus filhos?!


Tão perto da verdade... Tão perto de crescer...
Aquilo que só é possível ouvir de um filho de 12 anos quando a nossa vida está mesmo um caos:

(Afonso) Mãe, se eu acordar às 3 ou às 4 da manhã, for lá abaixo e tu estiveres tombada em cima do computador, queres que te deixe dormir ou que te acorde para tu acabares o episódio?
(Nonô e Mamã a pular no trampolim) Mamã, tu és a melhor mãe do Passado, do Presente e do Futuro!

Já me contentava com o Presente, mas tudo bem... :)
E quando o presente do Dia da Mãe do nosso filho mais velho é o desafio para a escrita de um livro a 4 mãos?

Vai ser um loooooongo verão!


O cenário pode parecer idílico mas, desmanchada a fotografia, há birras por controlar, travessas de comida por fazer, quilos de matéria para estudar, valores para lhes incutir, e muita paciência, sagacidade, abnegação e resiliência que as mães (e os pais também, naturalmente, mas hoje é o nosso dia) têm de, dentro de si, descobrir.
Que ninguém se iluda: não é uma aventura fácil! Mas é seguramente uma aventura que nos faz crescer todos os dias. Que, se às vezes nos faz chorar, também é responsável pelos nossos maiores sorrisos.
A todas as Mães lutadoras que eu conheço, que tentam, para além de todas as quedas, transformar os seus filhos em pessoas capazes e pessoas felizes, o meu obrigada! Espero ainda viver num mundo em que as Mães são devidamente valorizadas por isto mesmo...